terça-feira, 26 de julho de 2011

Al Jazeera: Submarinos do Brasil visam proteger o pré-sal

Por Fabiana Frayssinet
Planos para construir submarinos nucleares que vêm sendo adiados desde os anos 1970s começam a sair do papel, agora que submarinos movidos a energia nuclear são considerados necessidade estratégica para proteger as reservas brasileiras de petróleo em águas profundas.
A presidenta Dilma Rousseff fez o corte simbólico da “primeira placa” de aço, dia 16 de julho, marcando o início das operações no estaleiro onde o primeiro submarino será construído.
“É momento muito especial”, disse a presidenta no discurso de lançamento do programa de desenvolvimento de submarinos da Marinha do Brasil (ProSub), que, de início, construirá quatro submarinos convencionais S-BR usando tecnologia francesa.
“O Brasil dá mais um passo na direção de afirmar seu status de país desenvolvido com indústria sofisticada, capaz de absorver, controlar e utiliizar tecnologias sofisticadas.”
O ProSub começou em dezembro de 2008, de um acordo entre o presidente francês Nicolas Sarkozy e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva do Brasil.
Nos termos daquele acordo, a França transferirá know-how tecnológico para as indústrias brasileiras envolvidas em desenvolver e construir submarinos.
Além disso, o trabalho começou na construção de um estaleiro, uma base naval e uma fábrica de estruturas metálicas e, de acordo com a Marinha, mais de 30 companhias brasileiras deverão começar a produzir os mais de 36 mil componentes necessários.

O Brasil formou uma empresa – Itaguaí Construções Navais (Itaguaí Naval Construction) – uma parceria entre a estatal francesa DCNS (ex- Direction des Constructions Navales et Services), a gigante da construção Odebrecht e a Marinha do Brasil, que tem direitos de veto.
O projeto é parte de um projeto mais ambicioso. Segundo o ministro da defesa, é “o primeiro passo em direção de construir um submarino movido a energia nuclear (SN-BR)”, que deverá ser entregue em 2023.
O Brasil já controla a tecnologia de enriquecimento de urânio necessária para produzir combustível nuclear, e espera usá-lo nesse submarino.
É tecnologia altamente sensível, atualmente só acessível para conjunto muito seleto de países: China, França, Rússia, Reino Unido e EUA.
Na opinião do cientista político Mauricio Santoro, da FGV-RJ, esse é o projeto mais importante e simbólico da Marinha do Brasil em várias décadas.
Paises desenvolvidos como os Estados Unidos consideram a propulsão nuclear essencial para suas frotas de guerra, Santoro afirmou. Assim, controlar essa tecnologia é “essencial” para a Marinha brasileira criar um “protótipo de produção” que pode ser usado subsequentemente em outros navios, como em porta-aviões.
A Marinha brasileira descreve os submarinos nucleares como “uma das naves mais complexas” já inventadas, por causa de suas vantagens táticas e estratégicas sobre os submarinos movidos a diesel-eletricidade, como maior autonomia de mergulho e velocidade, o que permite a eles patrulhas mais longas em áreas maiores de oceano.

Recursos de defesa, não de ataque

Como Santoro lembra, o Brasil tem razões históricas para insistir nesse projeto. O país foi arrastado para a II Guerra Mundial porque submarinos alemães atacaram um navio mercando brasileiro no Atlântico Sul, em momento em que o Brasil não tinha meios para defender o próprio território.
Além disso, como oficiais da Marinha do Brasil sempre lembram, a guerra de 1982 entre a Grã-Bretanha e a Argentina teria tido resultado diferente se a Argentina tivesse frota naval capaz de defender seu território.
“Do ponto de vista estratégico, os submarinos nucleares são provavelmente o meio mais efetivo de armamento de defesa” – disse Santoro.
O governo do Brasil tem destacado, em várias oportunidades, o interesse em construir arsenal de defesa, não de ataque.
“O principal objetivo do projeto é modernizar a Marinha e dar-lhe meios para dominar a tecnologia de produção de submarinos movidos a energia nuclear, em contexto de defesa, não como arma de ataque. Nosso país está hoje comprometido com o princípio da paz” – disse a presidenta Rousseff.
William Gonçalves, especialista em Relações Internacionais da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, disse que essa fala da presidenta é importante, porque comprova que “o Brasil não tem qualquer intenção agressiva ou expansionista”, sobretudo em relação aos nossos vizinhos latino-americanos.
A mensagem é dirigida aos vizinhos latino-americanos, para que “entendam que o Brasil tem necessidades estratégicas específicas, mas não alimentará qualquer tipo de corrida armamentista, nem está interessado em converter-se em potência militar” – disse Gonçalves.
Para Gonçalves, a construção de um submarino nuclear é plenamente justificada, porque “as necessidades estratégicas do país mudaram”.
País de 190 milhões de habitantes tem o dever de proteger suas áreas nacionais de interesse econômico, também no mar, sobretudo agora, depois que se descobriram as imensas reservas de petróleo em águas profundas, em região submarina do pré-sal, com as quais poderá suprir as necessidades internas, com excedente exportável.
A presidenta Rousseff disse que “É perfeitamente justo que nossa Marinha tenha meios adequados para proteger as riquezas e a soberania desse país”.
Gonçalves lembrou também que o Brasil “tem hoje responsabilidades internacionais que jamais teve antes”, nas questões políticas, de energia, de comércio e de preservação do meio ambiente. “O Brasil não é nem aspira a ser potência militar, mas é interlocutor internacional cada dia mais infuente” – destacou.
Santoro disse que há também outros motivos estratégicos para esse projeto de construir submarinos nucleares, como a necessidade de proteger o trânsito de mais de 95% dos produtos comercializados pelo Brasil, para todo o mundo, que são transportados por mar.
O projeto dos submarinos nucleares evidencia “a importância que o Brasil dá a sua agenda de defesa”, e para ampliar suas capacidades tecnológicas.
O analista também mencionou a aspiração do Brasil a um assento permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas. Em sua opinião, o país precisaria “de forças armadas melhor equipadas para exercer aquele papel”.
Como Gonçalves, Santoro acredita que o papel defensivo do Projeto ProSub está sendo enfatizado “para reafirmar a ideia do Brasil como país de tradição pacífica, que nunca investiu em objetivos expansionistas e não precisa nem ampliar seu território nem ocupar outros países e que não apóia nenhum tipo de corrida armamentista imperialista”.


Matéria originalmente publicada pela Al Jazeera, traduzida pela Vila VuduFonte: Vi o Mundo

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