quinta-feira, 3 de março de 2011

Kassab – reserva estratégica

Publicado por walter sorrentino em 02/03/2011

Quer dizer: todo um filão da oposição quer passar ao campo Dilma e isso é problemático? Trata-se exatamente do maior poder alcançado nas urnas pelo DEM, a prefeitura de São Paulo, entre os cinco maiores orçamentos da nação, comandada por Kassab.
Problemático para quem? A mídia paulista não tem dúvida. Expõe a chaga sem anestesia e abre suas baterias contra a movimentação de Kassab e todos que a apóiam. Alckmin está visivelmente no contra-movimento. Setores do PSB que participam de seu governo também. Outros insistem na questão da identidade programática direita-esquerda, porque Kassab se dispõe a constituir nova agremiação de centro ou centro-esquerda, não tendo provindo desse campo.
A questão de abrir uma terceira via forte em São Paulo, por distintos caminhos e diferentes expressões, é uma exigência se se quer pôr fim ao domínio tucano que completará 20 anos em 2014. A força centrista que foi o PMDB de Quércia foi espremida duramente pelo monopólio PSDB-PT, e contribuiu para aquele domínio, não apenas do governo estadual, mas das maiores e principais administrações do Estado. A polarização PSDB-PT em São Paulo significará mais vitórias tucanas se não se mobilizar reservas de dissensão do campo dominante.
O movimento do prefeito Gilberto Kassab significa isso. Interessa profundamente às forças que buscam avançar em São Paulo, a começar de Dilma Rousseff e a base governista, o PMDB, o PSB, o PDT, o PCdoB. O PRB e PR, e até o próprio PT num plano estratégico, sairão beneficiados. O grande perdedor será Alckmin, a maior força da oposição neste momento, em termos de poder real. Aécio disputa terreno com ele, podem até se à revelia de Serra (ou, pelo contrário, Alckmin e Serra enfrentarem MG), mas em nenhuma hipótese o movimento de Kassab é favorável a Alckmin.
Para todos está em pauta 2014 ao governo. Kassab busca isso e naturalmente acirra disputas. No caminho está 2012, claro. O prefeito em seu movimento provavelmente não estará em condições de liderar sozinho 2012, terá que compor. Mas terá que abrir caminho, mesmo a fórceps, para se viabilizar politicamente, para 2014. Esse é o terreno da objetividade política. Hoje o mais provável é 2012 em São Paulo pulverizarem candidaturas, como o PCdoB com Netinho de Paula.
Todo movimento gera as contratendências. Isso é o que se verificará na sequência do movimento. Alckmin tem que equacionar a questão Serra, para o bem ou para o mal, e o PSDB tem que superar sua crise interna de disputa do poder. O próprio prefeito terá que levar em conta os movimentos que fará Serra. O governo da capital  terá que ser reformulado, em consonância com seu reposicionamento; aliás, a eleição da Mesa da Câmara de Vereadores expressou com bastante conseqüência isso. O PMDB e o PSB veem Kassab como uma disputa da primazia no fortalecimento, tendo em vista seus projetos próprios, na condição de parceiro preferencial do PT em 2014 ou, quem sabe, até de candidato presidencial próprio dependendo da evolução do quadro nacional.
Enfim, ninguém pode dispensar Kassab, e ao mesmo tempo há uma luta para não fortalecê-lo demasiado e cada qual ocupar maior espaço.
Dada essa condição de reserva política estratégica, o movimento de Kassab é importante e positivo para a oposição aos tucanos. O que precisa prevalecer é a visão maior, não a imediatista. Ele é um político que age com determinação. É questão de sobrevivência e perspectiva para ele. É questão de oportunidade, espantosa que pudesse parecer a alguns, para descortinar em São Paulo uma realidade política mais multilateral e menos polarizada.

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