quinta-feira, 8 de junho de 2017

Ergon Cugler: 55º Conune - Fortalecer a UNE para fortalecer o Brasil

une


A luta histórica dos estudantes e sua contribuição para a construção da nação fronte os desafios do próximo período – democracia, soberania e muita resistência!

Por Ergon Cugler (*)
Vivemos hoje o que parece uma novela, com capítulos longos e repletos de reviravoltas, aliás o povo brasileiro gruda nas telas a cada plim plim que anuncia mais um escândalo de corrupção. Por outro lado ocorre a flexibilização das leis trabalhistas, o desmonte da previdência e a venda do Brasil a preço de banana ao capital estrangeiro. O entreguismo corre cada vez mais ao lado da corrupção e do desmonte do Estado, escancarando o tal projeto “ponte para o futuro” e seus anseios friamente neoliberais para o país.
Ao mesmo tempo, tal setor que tanto investiu neste desmonte do Estado, hoje investe na caça aos movimentos sociais que demonstram resistência aos retrocessos. Mas para compreender o presente, é necessário se debruçar perante a história, não só do Brasil, mas de uma das mais importantes – senão a mais – entidade que se moldou no cerne dos movimentos sociais do país, a União Nacional dos Estudantes (UNE).
HÁ 80 ANOS: A UNE SOMOS NÓS!
O momento em que a UNE nasce (1937) já demonstrava tímidas movimentações de grupos nazistas e integralistas no Brasil, até mesmo por parte da Juventude Integralista, que buscou apoio de Getúlio Vargas para se estruturar. Vargas, então, cria a “Juventude Brasileira”, com viés integralista, como contraponto à UNE que realizava passeatas a favor da participação do Brasil no bloco dos aliados (EUA / URSS) para então combater o nazismo.
Passado tempos de guerra, a União Nacional dos Estudantes encampou uma de suas lutas mais bem sucedidas: “O Petróleo é Nosso!”, o qual resultou na criação de uma das maiores estatais do mundo, gerando contraponto ao setor norte-americano que buscava ampliar seus pólos de exploração ao redor do mundo. Para a UNE em 1953, a Petrobrás não era apenas a Petrobrás, mas a forma lógica de fazer o Brasil avançar fronte a soberania de suas riquezas, com pesquisas e tecnologias, garantindo o fortalecimento da Indústria Nacional, geração de emprego e educação superior demandada de todo processo de avanço.
No entanto, nos é fundamental compreender o momento histórico da década de 60, quando a UNE havia ganho espaço no cenário estudantil e se organizava cada vez mais em regiões do Brasil através do projeto “Volante”. Mas também foi na década de 60 que a UNE viveu seu momento mais obscuro, marcado por perseguições, torturas e mortes de seus dirigentes, os quais se opunham diariamente à então instaurada Ditadura Militar.
A UNE resistiu à Ditadura Militar, não apenas num recuo tático, mas no combate diário. Combate que deu mais força aos estudantes e abriu espaço para sua reconstrução de forma efetiva. Para os estudantes, o processo de redemocratização do Brasil deu gás para uma demanda praticamente consequente da então recém-conquistada democracia: as “Diretas Já”. A UNE liderou os estudantes às ruas pelo direito de votar e, mais uma vez, esteve na narrativa da história do Brasil ao lado dos interesses do povo brasileiro. A última década, para a UNE e para os estudantes, não representou o projeto ideal em si para o movimento estudantil, mas revelou ser o mais próximo de um projeto bem-sucedido de avanços, pois garantiu a expansão das universidades públicas e a entrada de todos os setores da juventude no ensino superior dos quatro cantos do Brasil.
Foram programas como o PROUNI, FIES, REUNI e muitos outros, criados em fóruns da União Nacional dos Estudantes e hoje atingindo milhares de estudantes ao redor do Brasil. Foi o Estatuto da Juventude, como também os Royalties do Petróleo para a educação e os 10% do PIB para investimento em ensino, pesquisa e extensão, que hoje fundamentam a educação. Recentemente, após o processo de impeachment de Dilma Rousseff montado pelo setor da grande mídia e mega-empresarial estrangeiro, percebemos mais um adversário à frente da soberania: Temer. No entanto, mudam as faces, mas não muda o desafio da UNE de combater personagens marcados pelo conservadorismo e pela retiradas de direitos básicos dos estudantes e dos trabalhadores e trabalhadoras.
CARAS PINTADAS | 1992 – 2017
Como foi ao longo dos 80 anos de histórico de lutas da União Nacional dos Estudantes, hoje a UNE enfrenta grave repressão e perseguição ao lado de movimentos sociais que são diariamente criminalizados banalmente, pois Temer sabe que são estes os movimentos que podem derrubá-lo e, portanto, não se isenta de buscar meios de isolá-los, mesmo que para isto seja necessária força bruta sobre os estudantes. A UNE tem peso, história e, acima de tudo, tornou-se porta-voz – junto à Frente Brasil Popular e a Frente Povo sem Medo – das grandes mobilizações realizadas nos últimos tempos contra as retiradas de direitos e retrocessos do Governo Temer. Aliás, é a União Nacional dos Estudantes que reúne todos os setores populares e de juventude do Brasil, com unidade e democracia para avançar nas pautas dos estudantes.
Precisamos valorizar o movimento estudantil e o peso que ele tem representado fronte ao momento político que vivemos. Tornou-se porta voz da insatisfação e da indignação com a corrupção que o povo brasileiro tem com o atual governo, como também porta-voz de uma plataforma popular que visa soberania e dignidade ao Brasil. São os movimentos sociais que precisam encampar as Diretas Já acompanhadas de tal plataforma e é a UNE quem tem amplitude necessária para ser carro chefe destes movimentos sociais, como assim foi em 1992.
Em meio a tudo isto, ocorre o fórum mais importante do movimento estudantil do Brasil, o Congresso da UNE (Conune), que em sua última edição reuniu quase 15.000 estudantes, do Acre até o Rio Grande do Sul, para debater os rumos da educação e do Brasil. O Conune deste ano vem em momento ímpar, pois reúne todos fatores históricos da UNE de seus últimos 80 anos em um único espaço: 1. Combate ao Conservadorismo; 2. Defesa da Soberania Nacional e o combate ao Entreguismo; 3. Resistência à repressão bruta e à caça aos Movimentos Sociais; 4. Debate sobre a Reforma Política; 5. Campanha por Diretas Já. Talvez não tenha existido espaço tão necessário para a UNE encampar tal plataforma e valorizar a democracia de seu espaço. O 55º Conune – que ocorre entre 14 a 18 de Junho em BH, MG – trará vez e voz para a UNE respirar e dar rumo ao projeto longe do abismo que Temer nos leva.
Este se tornou o “Congresso dos Congressos”, com amplitude e democracia, pois é necessária muita unidade para barrar os retrocessos e colocar o Brasil no rumo certo; Viva os 80 anos da União Nacional dos Estudantes! Viva o povo brasileiro!

*Ergon Cugler é estudante da Faculdade de Tecnologia do Estado de São Paulo (FATEC), diretor da União Estadual dos Estudantes de São Paulo (UEE-SP) e presidente da UJS Baixada Santista.

Nenhum comentário:

Postar um comentário