sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Ricardo Melo: jornalismo ou trotsquismo?


Camaradas do partido
Encaminhei um email a Ombudsman da Folha, Suzana Singer, a respeito da coluna de Ricardo Mello na pag. 2 da Folha de SP de 20/10/11, "Além da Tapioca". Peço que reproduzam-na para seus contatos, se assim gostarem de minha crítica. Obrigado.


À jornalista Suzana Singer, ombudsman da Folha de S.P.


Ao ler a coluna de Ricardo Melo na pag. 2 da edição de 20/10/11, já representada por nomes independentes como os de Clóvis Rossi e de Cláudio Abramo, identifiquei o mesmo discurso de exatos 30 anos atrás (nos anos finais da ditadura militar) quando ingressei numa tendência trotsquista conhecida como Liberdade e Luta (oulibelu, na ótica de seus críticos), eterna oposição à direção da UNE. Antes, eu havia militado na Caminhando, que em São Paulo era próxima do clandestino PCdoB. Fui portanto levado ao encontro dochefe Ricardo Melo, na época chamado de Cabelo, e ele fez exatamente o mesmo discurso para mim: os partidos comunistas eram stalinistas, seus componentes eram burocratas e estavam a serviço da contrarrevolução no Brasil.
Como militei na década de 80 com Ricardo na “libelu”, conhecia seu discurso de inspiração no movimento mundial dos seguidores de Léon Trótski, um dos lideres da revolução russa que foi expulso da União Soviética em 1929 e assassinado em 1940. O ódio de Mello contra Stálin e qualquer admirador do dirigente georgiano era compreensível, assim como de todos aqueles que simpatizavam pela figura do líder revolucionário assassinado. Era a ditadura militar e o recém-fundado PT participaria de suas primeiras eleições no ano seguinte, em 1982. A organização política que tinha no “Cabelo” um de seus dirigentes participava do PT como tendência organizada e foi por aí que me aproximei do seu grupo.
Como leitor da Folha de S. Paulo, o que eu não sabia era que as acusações sem provas contra o ministro Orlando Silva receberiam do colunista Ricardo Mello a oportunidade de relembrar seu passado trotsquista, acima do dever de ofício de bem informar. Ao ler a coluna “Além da tapioca”, a conclusão é que o ministro dos Esportes estaria errado seja quem fosse indicado para o cargo, pois como foi indicação do stalinista (sic) PCdoB, tanto faz como tanto fez, será sempre um burocrata “com rótulo de esquerda”, haverá “malfeitos (...) com dinheiro público” e “ ...sempre terão (pois inclui PCB e MR8) parcela de culpa na onda de desesperança generalizada”.
Ao leitor, não está claro que tal opinião não é uma posição independente, mas fruto do sectarismo do período pré-democracia e pré-constituição de 1988 (a constituição cidadã do Ulysses Guimarães), antes até da revolução digital que democratizou as comunicações. Passados tantos anos, a provável denunciação caluniosa (portanto, criminosa) do PM João Dias mais pareceu a grande oportunidade que Cabelo tanto esperava para atacar os supostos inimigos stalinistas nas páginas da mesma imprensa burguesa bastante criticada pelo trotsquismo dos anos 80.
Nenhum jornalista sério, até as denúncias serem comprovadas, pode afirmar que “... uma legenda supostamente popular é pilhada com a mão no Tesouro” (com o PT como "conivente"), pois o PM depôs na Polícia Federal durante 8 horas no dia de hoje e não apresentou nenhuma prova, como informou o Jornal Nacional ao final de sua edição. Nadica de nada, até agora só blá-blá-blá que, se confirmada a leviandade da disseminação de uma acusação infundada, levará parte da imprensa brasileira para o divã. Nem entendo que jornalista deva pôr a mão no fogo por ninguém, pois atividade de jornalista é investigar, procurar, encontrar o escondido, e se encontrar, reportar. Mas tirar o mofo de um discurso engavetado e apresentá-lo como concernente ao caso atual, vai uma enorme distância do bom jornalismo.
Vivemos numa democracia que teve os partidos que se formaram em oposição à ditadura (PMDB, PSDB e PT) no governo do país. A liberdade partidária é ampla e a censura aos jornais e às artes desapareceu da vida cotidiana. Os sindicatos se organizam sem perseguições policiais e estudantes já derrubaram, nas ruas, um presidente eleito pelo povo. Se Ricardo Mello envelheceu na “guerra fria” da esquerda, o mínimo que o desavisado leitor deveria saber é que sua opinião não é independente, ao contrário de como a Folha assim se apresenta.
Obrigado, Rivaldo Rodrigues Novaes Junior – 52 anos – fisioterapeuta e professor universitário em Santos/SP, Secretário de finanças do PCdoB e filiado desde 2006."

Nenhum comentário:

Postar um comentário