Frederico Lopes *
O Novo Dicionário da Língua
Portuguesa (Aurélio), Editora Nova Fronteira, 1ª Edição, (14ª impressão), Rio
de Janeiro, não registra o verbete “apoliticismo”. Nele, encontra-se “Apolítico.
[Do gr. Apolitikós.] Adj. 1. Que não é político: conduta
apolítica. 2. Que não se envolve em, ou não tem interesse por
política: indivíduo apolítico.”

Ao verbete-título deste texto, apoliticismo,
aqui usado em desacordo com o Aurélio, atribuo o significado de “moda
de negar valoração positiva ao que é político”, quer dizer,
“desqualificar tudo que seja político”.
Levantarei neste texto breves e singelas reflexões
para aproximação da resposta: a quem interessa negar, desqualificar a política
e os(as) que a exercem, e por que?
A política está umbilicalmente
ligada ao poder entre os seres humanos (não será abordado, aqui, o poder de
domínio destes sobre a natureza) e consiste, em última instância, em submeter
uma parcela deles, que forma a classe dominada, aos desígnios da outra parcela,
a classe dominante. A classe detentora do poder, num determinado momento
histórico de uma sociedade, dele se vale para atingir seus objetivos, dentre os
quais – e principal – manter-se no poder.
A classe social que conquista e
detém o poder (político, econômico, cultural, ético, estético, moral, etc.)
acaba por impor a toda sociedade sua ideologia, que visa a tornar-se válida
para todos(as), universal. Para tanto, lança mão de muitos e diversificados
meios e aparelhamentos, do convencimento ideológico à coerção, através da força
bruta.
A conquista do poder político se
dá não por um indivíduo isolado, mas por um conjunto deles, que se agrupam em
torno de visões de mundo, representadas por partidos, ferramentas contemporâneas
para a tomada e manutenção do poder. Nossa história tem revelado a necessidade
de alianças partidárias para que se atinja o objetivo traçado.
O partido político é a expressão
concentrada de uma ideologia, da qual deriva uma política e determinada forma
organizativa; é o portador das idéias e valores de uma classe ou camada social
definida.
A partir destas poucas idéias,
acima explicitadas, prossigo refletindo por que nossa sociedade, burguesa, por
exemplo: 1. supervaloriza o papel do indivíduo em relação ao coletivo; 2.
considera démodé a militância partidária voluntária e valoriza o
trabalho assistencial voluntário; 3. desqualifica, “demoniza” o ser
político e analtece o técnico, visto como apolítico?
O indivíduo humano fora do seu
coletivo, quando sobrevive, é praticamente um animal. A ciência estudou casos
raríssimos de sobreviventes humanos isolados socialmente e concluiu, por
exemplo, que mesmo com o aparelho fonador em perfeitas condições, não
conseguiam articular palavras, repetiam os ruídos que ouviram de outros seres
vivos, animais. Hoje nós, humanos, somos praticamente cultura, e cultura é uma
construção social, coletiva. Obviamente, o indivíduo deve ser valorizado, e não
negado. A justa relação indivíduo–coletivo tem que ser buscada, sem
supervalorizar um pólo em detrimento do outro.
O(a) militante partidário(a)
voluntário(a) – mais ainda, aquele(a) que contribui materialmente para a
manutenção de seu partido – é taxado(a), no mínimo, de estranho(a)... às vezes,
até pela própria família! Quem atua de modo semelhante em obras sociais é reverenciado(a),
é tido(a) como modelo, como exemplo!
Há candidatos(as) a cargos
públicos eletivos que fazem questão de proclamar com estardalhaço que não são
políticos! São o quê?
Uma pessoa que se formou numa
determinada profissão, mas não a exerceu, e é músico(a), ator(atriz), etc., diz
com orgulho: sou músico(a), ator(atriz), etc., e não advogado(a), médico(a)...
No entanto é frequente um político, que nunca exerceu a profissão em que se
formou, que sempre atuou na política, assinar um texto como jornalista,
engenheiro(a), e não como político! O argumento, nem sempre verdadeiro, é que
ser político é transitório... A realidade nos mostra que não é bem assim!
Poderia me alongar na
explicitação de fatos, mas penso não ser o caso.
A conclusão que se impõe às questões
formuladas diz respeito ao PODER. No capitalismo a classe no poder, a
burguesia, conseguiu tornar sua ideologia universal para a sociedade que ela
domina. Quem informa e forma a grande massa é a mídia burguesa (TVs, rádios,
jornais, revistas), as escolas, e outros tantos chamados “aparelhos ideológicos
de estado”. Daí ser relativamente comum pessoas da classe dominada defenderem,
até com ênfase, as idéias e interesses de seus algozes. Há, porém, contradições
dentro do sistema dominante, o que possibilita sua substituição por outro,
mormente mais avançado.
Ser político, atuar
coletivamente, pertencer a um partido não interessa, em absoluto, a nenhuma
classe que tomou e quer manter o poder. E as classes dominantes, sempre que
foram ameaçadas de perder o PODER, recorreram aos mais diversos meios de
dissuasão, inclusive o de extermínio físico dos ameaçadores, pelas armas mais
diversas.
A burguesia, que evidentemente
quer manter-se no poder, ainda que sem ameaça imediata de perdê-lo, é defensora
ardorosa do APOLITICISMO e do individualismo!
Ao contrário, os(as)
revolucionários(as) devem suplantar essa armadilha e lutar coletivamente,
organizadamente, para POLITIZAR o povo, visando a uma sociedade mais
avançada.
Um salto CIVILIZACIONAL é
necessário!
Santos,
25 de janeiro de 2013.
* Secretário de Formação e
Propaganda do PCdoB de Santos.
Parabéns pela matéria! Saudações. Jorge Morgado.
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