quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

APOLITICISMO



Frederico Lopes *

O Novo Dicionário da Língua Portuguesa (Aurélio), Editora Nova Fronteira, 1ª Edição, (14ª impressão), Rio de Janeiro, não registra o verbete “apoliticismo”. Nele, encontra-se “Apolítico. [Do gr. Apolitikós.] Adj. 1. Que não é político: conduta apolítica. 2. Que não se envolve em, ou não tem interesse por política: indivíduo apolítico.”

Ao verbete-título deste texto, apoliticismo, aqui usado em desacordo com o Aurélio, atribuo o significado de “moda de negar valoração positiva ao que é político”, quer dizer, “desqualificar tudo que seja político”.
Levantarei neste texto breves e singelas reflexões para aproximação da resposta: a quem interessa negar, desqualificar a política e os(as) que a exercem, e por que?
A política está umbilicalmente ligada ao poder entre os seres humanos (não será abordado, aqui, o poder de domínio destes sobre a natureza) e consiste, em última instância, em submeter uma parcela deles, que forma a classe dominada, aos desígnios da outra parcela, a classe dominante. A classe detentora do poder, num determinado momento histórico de uma sociedade, dele se vale para atingir seus objetivos, dentre os quais – e principal – manter-se no poder.
A classe social que conquista e detém o poder (político, econômico, cultural, ético, estético, moral, etc.) acaba por impor a toda sociedade sua ideologia, que visa a tornar-se válida para todos(as), universal. Para tanto, lança mão de muitos e diversificados meios e aparelhamentos, do convencimento ideológico à coerção, através da força bruta.
A conquista do poder político se dá não por um indivíduo isolado, mas por um conjunto deles, que se agrupam em torno de visões de mundo, representadas por partidos, ferramentas contemporâneas para a tomada e manutenção do poder. Nossa história tem revelado a necessidade de alianças partidárias para que se atinja o objetivo traçado.
O partido político é a expressão concentrada de uma ideologia, da qual deriva uma política e determinada forma organizativa; é o portador das idéias e valores de uma classe ou camada social definida.
A partir destas poucas idéias, acima explicitadas, prossigo refletindo por que nossa sociedade, burguesa, por exemplo: 1. supervaloriza o papel do indivíduo em relação ao coletivo; 2. considera démodé a militância partidária voluntária e valoriza o trabalho assistencial voluntário; 3. desqualifica, “demoniza” o ser político e analtece o técnico, visto como apolítico?
O indivíduo humano fora do seu coletivo, quando sobrevive, é praticamente um animal. A ciência estudou casos raríssimos de sobreviventes humanos isolados socialmente e concluiu, por exemplo, que mesmo com o aparelho fonador em perfeitas condições, não conseguiam articular palavras, repetiam os ruídos que ouviram de outros seres vivos, animais. Hoje nós, humanos, somos praticamente cultura, e cultura é uma construção social, coletiva. Obviamente, o indivíduo deve ser valorizado, e não negado. A justa relação indivíduo–coletivo tem que ser buscada, sem supervalorizar um pólo em detrimento do outro.
O(a) militante partidário(a) voluntário(a) – mais ainda, aquele(a) que contribui materialmente para a manutenção de seu partido – é taxado(a), no mínimo, de estranho(a)... às vezes, até pela própria família! Quem atua de modo semelhante em obras sociais é reverenciado(a), é tido(a) como modelo, como exemplo!

Há candidatos(as) a cargos públicos eletivos que fazem questão de proclamar com estardalhaço que não são políticos! São o quê?
Uma pessoa que se formou numa determinada profissão, mas não a exerceu, e é músico(a), ator(atriz), etc., diz com orgulho: sou músico(a), ator(atriz), etc., e não advogado(a), médico(a)... No entanto é frequente um político, que nunca exerceu a profissão em que se formou, que sempre atuou na política, assinar um texto como jornalista, engenheiro(a), e não como político! O argumento, nem sempre verdadeiro, é que ser político é transitório... A realidade nos mostra que não é bem assim!
Poderia me alongar na explicitação de fatos, mas penso não ser o caso.
A conclusão que se impõe às questões formuladas diz respeito ao PODER. No capitalismo a classe no poder, a burguesia, conseguiu tornar sua ideologia universal para a sociedade que ela domina. Quem informa e forma a grande massa é a mídia burguesa (TVs, rádios, jornais, revistas), as escolas, e outros tantos chamados “aparelhos ideológicos de estado”. Daí ser relativamente comum pessoas da classe dominada defenderem, até com ênfase, as idéias e interesses de seus algozes. Há, porém, contradições dentro do sistema dominante, o que possibilita sua substituição por outro, mormente mais avançado.
Ser político, atuar coletivamente, pertencer a um partido não interessa, em absoluto, a nenhuma classe que tomou e quer manter o poder. E as classes dominantes, sempre que foram ameaçadas de perder o PODER, recorreram aos mais diversos meios de dissuasão, inclusive o de extermínio físico dos ameaçadores, pelas armas mais diversas.
A burguesia, que evidentemente quer manter-se no poder, ainda que sem ameaça imediata de perdê-lo, é defensora ardorosa do APOLITICISMO e do individualismo!
Ao contrário, os(as) revolucionários(as) devem suplantar essa armadilha e lutar coletivamente, organizadamente, para POLITIZAR o povo, visando a uma sociedade mais avançada.
Um salto CIVILIZACIONAL é necessário!

Santos, 25 de janeiro de 2013.

* Secretário de Formação e Propaganda do PCdoB de Santos.

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