segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Ratos & ratos

Muito me impressionou, no dia de ontem, a "ampla cobertura" que fizeram vários órgãos de imprensa, a respeito do rato que invadiu uma praça de alimentação de um shopping de luxo, em São Paulo. O animal que assustou a patricinhas e madames por cinco minutos, mereceu destaque nas pautas de vários jornais, como se fosse a mais nova tragédia brasileira, tão ou mais grave quanto os desastre causados pelas chuvas no Rio de Janeiro.
 
Na mesma São Paulo do shopping em questão, existem pessoas que convivem com ratos bem maiores que amedrontou aos frequentadores do estabelecimento, além de outro como baratas, lacraia, escorpiões e outros. Pessoas vitimadas pelo capitalismo, que são forçadas a viver nos lugares mais insalubres, em extrema meserabilidade expostos a toda sorte de perigos para a saúde. Além dos roedores quadrúpedes, existem os "ratos bípedes" que simplesmente ignoram que estas pessoas precisam e querem viver de forma digna. A mesma imprensa que superdimensionou a importância deste fato, não é capaz de denunciar a exclusão social pela qual passam milhões de brasileiros, de reservar um espaço razoavel para fazer com que a população enxergue que esse sistema que ai está, não favorece aos que mais precisam.
 
Mas é uma utopia ver a imprensa, que não tem nehum compromisso com o povo, com o seu bem estar, mostrar os males do capital. Ela tem rabo preso com os neocolonialistas que arrasaram o país, que queriam (e ainda querem !) jogar o país no colo do imperialismo e ceifar nossa soberania.
 
Eis a ótica do PIG! Até os ratos são mais importantes...
Que o diga o jornalista da RBS Mário Prates (pobre não pode ter carro) e Boris Casoy (amigo e patrono dos garis)
 
Anderson Roberto da  Silva Barros - Membro do Comitê Municipal do PCdoB Santos-SP
 

O Partido Comunista e as mudanças estruturais

Alcançam repercussão enormemente positiva as resoluções da Comissão Política Nacional, realizada na última sexta-feira (28). Curiosamente, não saiu uma resolução propriamente dita, mas uma notícia sobre a orientação política adotada. Isto dá a dimensão do alcance que têm e do interesse que despertam os debates sobre os rumos do país e os posicionamentos da direção comunista sobre as tarefas políticas, a tática, a perspectiva estratégica e o fortalecimento do Partido. 


Por José Reinaldo Carvalho*

É uma boa indicação do empenho que as instâncias dirigentes executivas devem dedicar à preparação dos documentos a serem submetidos à apreciação e deliberação do Comitê Central, em sua 6ª reunião a realizar-se em 19 e 20 de março.

Vale a pena debruçar-se no porquê da repercussão positiva nas fileiras do Partido suscitada pela Comissão Política.

A direção do PCdoB passou em revista algumas questões cruciais da atual luta política em curso no país. A pergunta que não calou na Comissão Política e que está a exigir resposta tão sonora quanto foi formulada, não só pelos comunistas, mas também pelo governo, o PT, os demais partidos de esquerda da coalizão, o movimento de massas, é se o Brasil vai efetivamente mudar, avançar, ou, no que se refere à orientação macroeconômica, ao aprofundamento das políticas sociais e à adoção de uma diretriz de realizar reformas estruturais democráticas, permanecerá na mesmice de considerar primeiramente a conciliação com as classes dominantes. É indispensável dar passos efetivos, mais ousados, para além da retórica, no sentido de construir uma nação democrática, soberana e socialmente avançada.

São elevadas as expectativas do povo brasileiro, suscitadas na campanha eleitoral pelo ex-presidente Lula, pela então candidata e hoje presidente Dilma e pelos partidos que lhe deram sustentação, entre estes o nosso Partido, que sempre estabelece os necessários nexos entre a tática e a estratégia, os objetivos imediatos e os de longo prazo, os compromissos atuais e a missão histórica.

O partido tem feito apostas elevadas no curso político e transmitido ao povo brasileiro uma mensagem de confiança e otimismo. A própria realização do programa partidário aprovado no Congresso em 2009, calcado na correlação de forças presente, estava condicionada à vitória eleitoral. A interrupção do ciclo progressista aberto com a eleição de Lula em 2002 representaria para o país e as forças populares um retrocesso de tal ordem que implicaria redefinições profundas nos terrenos estratégico e tático.

Há um conjunto de preocupações levantadas por todos os que intervieram na reunião quanto a duas ordens de problemas.

Primeiramente, sobre as opções feitas neste início de mandato pela equipe econômica da presidente. Uma manifesta inclinação para o ajuste fiscal, para priorizar o pagamento da dívida através de maiores concessões à oligarquia monopolista-financeira contraria frontalmente os interesses das massas trabalhadoras e populares. Simbolicamente, esta disjuntiva aparece na decisão de aumentar a taxa de juros, velho e surrado método de “combater a inflação”, que vem dos imemoriais e tristes tempos de Pedro Malan, ministro da Fazenda de FHC, e chegou à nefasta gestão da dupla Antônio Palocci-Henrique Meirelles na era Lula. A Comissão Politica firmou posição unânime contra essa orientação: “O PCdoB está em oposição a essa política”, sintetizou o presidente Renato Rabelo.

Aparece ainda na postura governamental em face da batalha pelo aumento do salário mínimo. A equipe econômica fechou-se em copas em torno de uma estreita faixa entre 540 e 545 reais. As centrais sindicais, inclusive a governista e petista CUT, e a CTB, onde protagonizam os sindicalistas do PCdoB, do PSB e os independentes, insistem nos 580 reais. Não é uma briga de torcidas, mas um conflito distributivo, em última instância, de classe. Argumenta-se que não se pode aumentar o salário mínimo para não incrementar o déficit público e o da Previdência, mas fazem-se cedências fiscais, financeiras e de todo tipo à grande burguesia e ao capital estrangeiro. No mínimo, pavimenta-se o caminho para a recessão, ou para um crescimento medíocre, como assinalaram vários dirigentes comunistas.

Reformas estruturais democráticas
A outra pergunta que não calou, não quer e não vai calar é se o Brasil vai ou não vai avançar na realização das reformas estruturais democráticas.

Chama a atenção que, sem exceção, os dirigentes partidários que têm responsabilidades de governo, parlamentares, representantes no movimento social e autoridades partidárias internas foram unânimes em constatar que a realização de reformas estruturais não está no escopo dos debates no parlamento, nos ministérios e na orientação geral do governo. Está no horizonte dos comunistas, de alguns dirigentes e parlamentares de outros partidos de esquerda e do movimento social, mas não no do partido hegemônico nem do governo.

E, no entanto, nada é mais necessário para o Brasil avançar no rumo da democracia, da soberania nacional e da edificação de uma sociedade socialmente justa do que a realização das reformas estruturais democráticas. Na convicção dos comunistas, esta necessidade está posta, para não retroceder no tempo ao ponto de sermos qualificados como jurássicos, desde 1988, quando o saudoso camarada Amazonas disse no 7º Congresso que o Brasil vivia uma encruzilhada histórica, para cuja saída eram necessárias rupturas revolucionárias. A vida apresentou novidades, os dois governos Lula, o governo Dilma, a oportunidade histórica para promover tais avanços.

Para rememorar, as reformas democráticas são: reforma política democrática; reforma agrária; reforma urbana; reforma nos sistemas educacional e de saúde; reforma tributária e democratização dos meios de comunicação. Sua realização não virá por geração espontânea, nem será fruto apenas da ação governamental. Depende muito da luta do povo, dos movimentos sociais, dos partidos de esquerda.


Frente política e social
Por isso avulta, com maior importância do que antes, a questão de construir o sujeito político que assumirá a liderança de mudanças desta envergadura.

Esta construção tem dois elos indissoluvelmente ligados: uma frente política e social, com base popular, constituição ampla e política de esquerda, o que significa uma plataforma anti-imperialista, popular e democrática. O esquema que tem funcionado até aqui – hegemonia do campo majoritário petista numa coalizão fluida em que pontificam até partidos de centro-direita – tem-se revelado insuficiente para promover e realizar transformações estruturais na sociedade.

Construir um sujeito político com as características de frente política e social, de movimento democrático-popular anti-imperialista é tarefa de enorme envergadura, de largo fôlego e prazo dilatado, para cujo êxito seria necessário empenhar esforços desde já. Não há modelos nacionais nem estrangeiros a seguir. O próprio curso da luta definirá suas formas. Mas é preciso dar os primeiros passos nessa direção.

Partido Comunista
Do ponto de vista dos comunistas, apresenta-se a tarefa de fortalecer o partido. É progressiva, embora lenta, a acumulação de forças do partido comunista, inclusive no plano eleitoral e institucional. O PCdoB detém cerca de três por cento dos votos nacionais proporcionais, elegeu uma bancada de 15 deputados federais e dois senadores e tem diminuta presença no governo nacional, circunscrita ao Ministério do Esporte. Nos estados e municípios conta com duas dezenas de deputados estaduais, cerca de 600 vereadores, uns 40 prefeitos, entre estes um de capital, e participa em secretarias estaduais e municipais em alguns governos locais. Cartorialmente, o partido tem, segundo dados da Justiça Eleitoral algo em torno de 280 mil filiados. É preciso um censo apurado para aferir quantos militantes somos.

Os principais desafios continuam sendo os do crescimento das fileiras e da influência política e eleitoral. Preparar o partido para os embates de 2012 é tarefa indispensável a que as direções em todos os níveis devem dedicar boa parte das suas atenções.

Mas seria incomprensão e desvio de rumo pretender enfrentar o desafio eleitoral dissociado do esforço para enraizar o partido nas massas, manter-se na linha de frente das lutas do povo, melhorar a composição social das fileiras partidárias, estruturá-las pela base , defender a identidade comunista e a unidade em torno do programa, formar militantes e quadros comunistas, construir um sistema de comunicação para atingir amplos setores e fortalecer ideologicamente o partido.

Numa época em que predomina a contrarrevolução, é tarefa precípua da direção sustentar a bandeira comunista do partido, porquanto em tal ambiente são fortes as tendências liquidacionistas e os fatores de degeneração. Em qualquer situação histórica, sob o capitalismo e o imperialismo, a luta pelo socialismo não prescinde da existência do partido comunista, que é a expressão mais elevada da independência política e organizativa das classes trabalhadoras. É nesse sentido que é correto afirmar que a questão organizativa é antes de tudo uma questão política. Não pode servir como frase de efeito nem rota de fuga para contornar a realização das complexas e duras tarefas de organização e da luta ideológica, que pressupõem antes de tudo clareza no diagnóstico dos problemas, frontalidade e métodos adequados.

A construção do PCdoB não começou na década passada. A acumulação de forças de que resulta o partido atual faz parte de uma época histórica iniciada pelo menos desde a refundação partidária em 1962 e que ingressou numa fase peculiar em 1985, com a legalização. Os comunistas são criativos, inovadores, capazes de se atualizar e se pôr à altura dos desafios políticos, ideológicos e orgânicos contemporâneos. Não se perdem na reiteração de dogmas, não se pretendem uma seita, mas tampouco se propõem  reinventar a roda ou redescobrir o caminho marítimo para as Índias.

O Partido tem uma missão histórica a cumprir, relacionada com a sua natureza de classe e os objetivos dos trabalhadores: a revolução e a construção do socialismo. Com discernimento relativamente às peculiaridades da época, não perde de vista a necessidade de soerguer o exército político de massas da luta política e social. Uma tarefa complexa, que requer ciência e pertinácia, ousadia e paciência histórica, que só se realiza por um grande coletivo, teórica, política e ideologicamente preparado.

É esse o sentido do combate às deficiências, ao esmaecimento da identidade, à diluição organizativa, ao debilitamento da unidade, à subordinação do coletivo a interesses e motivações de indivíduos isolados e grupos.

A luta do povo brasileiro tem muito a ganhar com as perspectivas abertas pela última reunião da Comissão Política do PCdoB.

*Secretário nacional de Comunicação do PCdoB


sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Liége: é preciso combater subestimação da mulher também no PCdoB

Desde que assumiu a missão de inaugurar no PCdoB a Secretaria de Mulheres, Liége Rocha tem se dedicado a uma questão nada fácil de ser equacionada: a subestimação da mulher na sociedade e, em especial, nas instâncias política e de poder. Ciente de que é preciso superar esse obstáculo para conquistar a emancipação feminina, a dirigente tem buscado travar o debate dentro do próprio partido e, ao mesmo tempo, tem levado a visão comunista sobre a questão da mulher a fóruns e instâncias variados.

Liége
"E não se trata apenas de preencher uma cota, mas de abrir espaço para mulheres representativas", diz Liége
Segundo ela, dentre as principais tarefas da secretaria neste ano está a realização da 2ª Conferência sobre a Questão da Mulher e o Congresso da UBM. Outra preocupação é investir na formação do coletivo sobre a importância da luta contra o preconceito de gênero. Uma das metas é formular um curso específico sobre o assunto. “Antes, existia uma distância muito grande entre o que o núcleo dirigente pensava, assimilava e incorporava sobre o tema e o conjunto do partido. Essa distância tem diminuído”, assegura. Para ela, a formação ajuda nessa direção.

Ao mesmo tempo, a secretaria buscará pôr em prática campanhas de filiação específicas, além de acompanhar de perto as principais discussões envolvendo a realidade feminina a serem pautadas no Congresso, no Executivo e nos movimentos sociais.

Nesta entrevista, Liége Rocha fala sobre os próximos desafios e faz um balanço sobre os primeiros anos de existência da secretaria.

Partido Vivo: Há dois anos, nascia a Secretaria da Mulher do PCdoB. O que mudou de lá para cá?
Liége Rocha: O período, aberto em 2009, quando pela primeira vez o PCdoB passou a ter uma Secretaria da Mulher e um Fórum Nacional Permanente sobre a Questão da Mulher, é bastante positivo. Primeiro porque nós conseguimos a partir da realização da primeira conferência nacional do partido sobre o assunto (2007) – que reuniu em seu processo 11 mil pessoas – fazer com que essa discussão tivesse maior impulso no partido. A partir disso, tivemos maior sensibilização sobre a importância de as mulheres estarem nos espaços de poder e decisão, tanto que nas últimas conferências estaduais que antecederam o 12º Congresso (2009), conseguimos a proporção feminina de 30% em todas as instâncias e também no Comitê Central. E não se trata apenas de preencher uma cota, mas de abrir espaço para mulheres representativas em diversos segmentos da sociedade, com capacidade e estatura suficientes para alcançarem tais posições.

E neste sentido, vale ressaltar o importante papel que as mulheres do partido jogaram tanto nas eleições de 2008 quanto nas de 2010. Naquele ano, o lançamento de nossas candidaturas às prefeituras foi motivo de debate e de reconhecimento até mesmo por parte de outras forças políticas. Num seminário realizado após as disputas de 2008 e que tratava do tema mulher, mídia e eleições, o PCdoB foi colocado como referência na questão da promoção das mulheres. Isso vem crescendo no partido. Antes, existia uma distância muito grande entre o que o núcleo dirigente pensava, assimilava e incorporava sobre o tema e o conjunto do partido. Essa distância tem diminuído.

Partido Vivo: Com relação ao ano de 2010, o que ressaltaria como destaques na atuação da secretaria?
LR: Tivemos avanços interessantes no ano passado. Começamos com as comemorações do 8 de março, em que tivemos presença marcante como militantes comunistas ou da União Brasileira de Mulheres (UBM). O seminário que fizemos no Rio de Janeiro em comemoração à data foi um momento muito significativo na vida do partido, em especial para as mulheres. Destaco, por exemplo, a fala do presidente Renato Rabelo, enfatizando que o PCdoB é o partido da juventude e das mulheres. Essa declaração teve grande repercussão no coletivo e as mulheres se sentiram valorizadas e protagonistas. Também foi um evento marcante do ponto de vista das comemorações dos 100 anos do 8 de março, tendo em vista que essa data surgiu exatamente do movimento comunista internacional; não podíamos deixar de assumir para nós a responsabilidade de chamar atenção para a data e para a urgência dessa luta.

Mas, a prioridade em 2010 foram as eleições e também neste aspecto jogamos papel importante, especialmente na candidatura de Dilma Rousseff. Elaboramos conjuntamente a plataforma para 2010, integramos a coordenação do Comitê Nacional de Mulheres pró-Dilma e também ajudamos na articulação de atividades nacionais das mulheres em apoio à candidata.

Partido Vivo
: E no que diz respeito à participação em instâncias dos movimentos sociais e em fóruns internacionais?
LR: Como secretária do PCdoB, participei da 11ª Reunião sobre a Questão da Mulher da Cepal, em Brasília, marcando nossa atuação em âmbito internacional, mais especificamente na América Latina. Nós, comunistas, também participamos, através da UBM, do Fórum de Organizações Feministas da América Latina e Caribe. Além disso, represento o Brasil no Comitê de Direção da Federação Democrática Internacional de Mulheres (Fedim) e participei nesta condição da 54ª Sessão da ONU sobre a Questão da Mulher (em Nova York). Também atuamos no Conselho Internacional do Fórum Social Mundial. Vale ressaltar ainda que, na nossa atuação na UBM, tivemos participação intensa na Frente contra a Criminalização das Mulheres e pela Legalização do Aborto, na Rede Feminista de Saúde, Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos e temos representações no Conselho Nacional de Saúde, no Conselho Nacional de Direitos das Mulheres e no Conselho Nacional da Juventude, além da participação nos níveis estadual e municipal. Temos uma atuação descentralizada que muitas vezes não tem visibilidade no partido apesar de sermos muito respeitadas no movimento. Precisamos ser mais ofensivas na divulgação dessas atividades. Temos tentado também estreitar as relações com a CTB; creio que a UBM deve ser uma entidade-irmã da CTB, como a Marcha Mundial é para a CUT.

Partido Vivo:
 Como o fato de Dilma ser presidente deverá ajudar na questão da mulher?
LR: Acho que para além de todas as questões em que Dilma pode contribuir para fazer avançar as transformações e o desenvolvimento do país, o fato de ser uma presidente mulher é uma questão emblemática para as brasileiras e a sociedade. É o que ela costumava dizer: a mulher pode. E isso tem um significado muito grande no combate à sub-representatividade das mulheres. Soma-se a isso o fato de Dilma não ser qualquer mulher, afinal, isso por si só não bastaria. É preciso ter proposta, uma visão avançada e um projeto consequente de país que vá ao encontro das nossas aspirações de transformação da sociedade. E ela tem essas qualidades. Portanto, esperamos que com Dilma possamos avançar nas políticas públicas e no aumento da representação feminina na sociedade. Mas, acho também que um dos desafios é a defesa de um Estado laico para, inclusive, não deixar que o fundamentalismo continue pressionando o governo a retroceder nas conquistas das mulheres. Este é um desafio que teremos de enfrentar no Congresso, e também ajudar a fazer frente para resistir à pressão que o Executivo vai sofrer.

Partido Vivo: E no que diz respeito à ação no PCdoB?
LR: Do ponto de vista do partido, temos neste ano duas grandes tarefas: a realização da segunda Conferência sobre a Questão da Mulher e o Congresso da UBM. E não podemos fazer algo menor do que foram as edições anteriores. O fato é que tanto do ponto de vista do partido quanto da UBM, a gente precisa avançar. Tínhamos, no partido, três desafios traçados na primeira conferência. Um deles era romper com a subestimação do papel estratégico da luta pela emancipação das mulheres – e acho que conseguimos avançar nisso, mas do ponto de vista da elaboração, não avançamos muito. Outro ponto era o de elaborar uma plataforma focada no protagonismo das mulheres e em certa medida acho que conseguimos cumprir com essa tarefa. Por fim, do ponto de vista da vida interna do partido, o desafio era fazer com que a questão da mulher fosse uma tarefa de todos, o que ainda não conseguimos totalmente. Mas, há sinalizações positivas como a garantia dos 30% das mulheres nas direções. Porém, precisamos fazer com que esta seja uma tarefa de todo o partido.

Outra coisa: vamos trabalhar por uma campanha de filiações para as mulheres. E tem algo que queremos concretizar de fato e de direito: com a mini-reforma política, ficou estabelecido que 5% do Fundo Partidário seria destinado à capacitação de mulheres. Então, estamos com a proposta de, neste ano, fazer um curso em vídeo sobre a questão da mulher para trabalharmos no partido de maneira a priorizar a formação militante. Se o PCdoB é respeitado na sociedade, se tem projetado importantes lideranças femininas nacionalmente, temos todas as condições de fazer com que a questão da mulher avance cada vez mais dentro do próprio partido.

http://www.pcdob.org.br/noticia.php?id_noticia=146328&id_secao=3

Não basta ser filiado, tem que participar

Luciano Siqueira *

De vez em quando o TSE divulga estatísticas sobre filiados a partidos políticos no país. A última dá conta de que o PMDB continua no pódio com mais de dois milhões de inscritos. E há outros considerados grandes, incluindo o PT. O PCdoB se aproxima do porte médio, embora ainda muito distante do que os comunistas desejam.

O tema é relevante sob vários aspectos. A começar pelo fato de que historicamente no Brasil os partidos políticos sempre tiveram dificuldades de se firmar. Os lapsos de prática democrática em pouco mais de um século de vida republicana, curtos e atribulados, jamais ofereceram o ambiente plenamente satisfatório à atividade partidária. Apenas de 1985 em diante – e já se vão vinte e seis anos – nosso frágil sistema democrático dá sinais de relativa estabilidade. Demais, um país de dimensões continentais, marcado por acentuadas disparidades regionais e culturais e ainda muito jovem quanto à sedimentação das classes sociais se constitui, por si mesmo, um desafio à estruturação partidária que não se vê no Uruguai ou em Portugal, por exemplo; nem mesmo em países latino-americanos e europeus maiores, como a Argentina e a Alemanha.

Outra variável certamente importante tem sido a natureza do desenvolvimento capitalista que aqui vicejou, onde a tônica não foi, durante mais de um século, o trabalho formal, que aglutina e organiza, e sim a informalidade que dispersa e desestabiliza.

De toda sorte, cabe saudar como positivas as estatísticas atuais sobre o tamanho dos partidos no Brasil. Mas é preciso acrescentar: não basta ser filiado, é preciso participar. A vida partidária possibilita a tomada de posição sobre o que acontece na aldeia e no país – e, desse modo, contribui decisivamente para a formação de uma consciência social avançada.

O PCdoB, que ostenta a condição de mais antigo partido brasileiro, fundado em 1922 e desde então atuante ininterruptamente, mesmo sob condições de ilegalidade e repressão, luta permanente para dotar suas fileiras de um exercício permanente e estável da vida militante, a partir de suas direções locais e organizações de base. Amealha avanços e insuficiências. No seu 12º. Congresso, realizado no ano passado, aprovou resolução sobre a política de quadros que tem nesta questão uma de suas vertentes essenciais. Quadros para liderar grandes contingentes de militantes de base vinculados à luta do povo.

Que cada partido a seu modo enfrente esse desafio. O vínculo partidário não pode se limitar a assinar a ata de convenções eleitorais, antes há que se constituir no exercício do debate de ideias e na participação ativa na vida social e política local e nacional. Partidos atuantes e lastreados em militância dinâmica são a forma de organização superior do povo e demais segmentos da sociedade.



http://www.vermelho.org.br/coluna.php?id_coluna_texto=3777&id_coluna=27

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

UBM convoca seu 8º Congresso Nacional


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A coordenação nacional da União Brasileira de Mulheres (UBM) se reuniu no último final de semana (22 e 23/01), em São Paulo, para definir os rumos da entidade diante da nova realidade política. A entidade irá avançar ainda mais no fortalecimento das lutas feministas e no protagonismo das mulheres com a realização do seu 8º Congresso Nacional, que ocorrerá de 27 a 29 de maio deste ano.
O debate sobre a condução de uma mulher pela primeira vez à presidência da República ocupou os trabalhos da manhã do sábado. Na abertura do evento, a secretária Nacional de Mulheres do PCdoB, Liège Rocha, proferiu a palestra “O Brasil em nova perspectiva: O protagonismo das Mulheres”. Liège destacou que, apesar do campo progressista ter saído vitorioso da eleição, os ataques durante a campanha desnudaram o caráter patriarcal e preconceituoso de setores ainda poderosos da sociedade brasileira. “A discussão dos programas de governo dos candidatos ficou secundarizada no segundo turno. Mas o significado da eleição de Dilma é emblemático para a luta das mulheres. É um novo contexto político para o país. Saí o presidente metalúrgico e entra a mulher, dando significado para o papel das mulheres na sociedade, na participação política e na ocupação nos espaços de poder”, destacou.

Ousadia para avançar - A história da presidenta, ex-guerrilheira que trilhou ao longo de toda a vida política por caminhos sempre considerados masculinos, foi celebrada como um símbolo de trajetória feminina que contribuirá substancialmente para um maior empoderamento das mulheres e o desbravar de novos espaços.

Entretanto, a eleição de uma mulher ao mais alto posto de decisão do país não implica em avanços automáticos para todas as brasileiras. Segundo as dirigentes, é necessário avançar com bandeiras ainda mais ousadas com o intuito de garantir neste governo o sentido popular e democrático iniciado sob o governo Lula e conquistar cada vez mais direitos para as mulheres — na lei e na vida.

Dentro desta perspectiva, a diretiva agora é ampliar a ação política de massas, com valorização do protagonismo feminino — sobretudo das trabalhadoras, em parceria com a Central dos Trabalhadores e trabalhadoras do Brasil (CTB) —, disputar a opinião política da sociedade com radicalidade e amplitude no sentido de democratizar ainda mais a sociedade brasileira. “Queremos a emancipação da mulher dentro de uma sociedade emancipada. Queremos uma sociedade socialista. E o 8º Congresso Nacional da UBM, que será realizado ainda no primeiro semestre de 2011, vai ampliar essa luta. O eixo central do congresso terá como tema ‘A participação política da mulher e o desenvolvimento do Brasil’ e, a partir dele, vamos trabalhar com temas da luta feminista que têm de estar na pauta do congresso nacional”, convocou a coordenadora nacional da entidade, Elza Campos.

Para além do Congresso, foram destacadas outras ações que as emancipacionistas travarão esse ano, como o 8 de Março, a III Conferência Nacional de Políticas Públicas para as Mulheres, que se realizará no segundo semestre e, entre outras, a Campanha os 16 Dias de ativismo contra a violência contra a mulher. A UBM também definiu o plano estratégico para as ações e lutas futuras que serão desenvolvidas nas coordenações regionais da entidade.

A reunião contou ainda com a presença da primeira secretária de Estado da Mulher do Distrito Federal, a ubemista e professora universitária Olgamir Amância Ferreira (PCdoB/DF). A coordenação também dedicou uma justa homenagem à histórica feminista e membro do conselho consultivo da entidade falecida em no final de 2010, Heleieth Saffioti.

Agendas para 2011

08 de Março

27 a 29 de Maio – 8º Congresso Nacional da UBM

III Conferência de Políticas para as Mulheres (data indicativa: 2º semestre)

Marcha das Margaridas

Por Mariana Venturini e assessoria de comunicação da UBM

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Lutar pela paz e denunciar os crimes de guerra do imperialismo

A solidariedade internacional e a luta dos povos contra o avanço das forças imperialistas são os temas da entrevista da presidente do Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta pela Paz (Cebrapaz) e do Conselho Mundial da Paz (CMP), Socorro Gomes, ao Vermelho.


Por Mariana Viel

Socorro destacou, entre o conjunto de atividades realizadas em 2010 por ambas as entidades, a atuação pelo desarmamento nuclear e a campanha pela retirada das bases militares dos EUA de territórios espalhados pelos cinco continentes.

Ela falou ainda da atuação do governo brasileiro na busca da paz e no processo de integração da América Latina. E da importância do fortalecimento do diálogo e da defesa da soberania de cada povo no processo de construção da paz.

Vermelho: O que você ressaltaria do conjunto de atividades realizadas pelo Cebrapaz em 2010?Socorro Gomes: Além de encaminhar diversas lutas contra a militarização e as guerras, nós lançamos no mês de janeiro, no Fórum Social Mundial — em articulação com organizações de luta pela paz de todo o continente americano —, a campanha contra as bases militares no continente. Ao longo do ano, foram realizadas atividades na Colômbia, Argentina e Cuba contra as bases militares. Entendemos como fundamental o lançamento dessa campanha porque a questão das bases militares está ligada a um projeto maior do imperialismo.

O mundo tem hoje cerca de 800 bases militares dos EUA espalhadas em todos os continentes. Isso faz parte de um objetivo central do imperialismo estadunidense: o controle de todos os continentes, especialmente de países com recursos naturais ou que não se submetem à política deles. Essas bases são uma ameaça real e concreta. Do ponto de vista da ameaça bélica, o imperialismo controla os mares e oceanos (através das frotas navais), os continentes (com as bases militares) e o espaço aéreo (através de mísseis, escudos e satélites).

Na luta pela paz, é fundamental denunciar a máquina de guerra, seus crimes e responsáveis. Apenas na América Latina, desde a Segunda Guerra, são centenas de milhares de pessoas assassinadas por influência direta de golpes promovidos e coordenados pelos Estados Unidos, são quase 900 mil vítimas.

Também promovemos campanhas de solidariedade aos povos do mundo que estão em luta pelos seus direitos, soberania, defesa de seus territórios e contra as agressões imperialistas.

Vermelho: E em relação ao Conselho Mundial da Paz, quais foram as principais atividades do ano passado?SG: Em 2010 participamos da campanha contra a Otan – que é um grande aparato de destruição e de guerra comandado pelos EUA. Participamos de conferências e manifestações de rua denunciando o que representa a Otan e exigindo seu desmantelamento imediato. Estivemos presentes em atividades em Estrasburgo e Lisboa, por motivo da realização na capital portuguesa da Cúpula da Otan, quando o Conselho Português Pela Paz e a Cooperação, com o apoio co Conselho Mundial da Paz, realizou um seminário e uma grande manifestação. Foi uma jornada de luta em que denunciamos a Otan como um instrumento do imperialismo que cometeu inúmeros crimes contra a humanidade.

Outra campanha do Conselho Mundial da Paz — e de que o Cebrapaz participou com muita força — foi pela destruição das armas nucleares. Essa é uma luta histórica do CMP porque as armas nucleares colocam em risco a própria existência da espécie humana. Realizamos no Senado brasileiro uma conferência sobre o Tratado de Não Proliferação Nuclear. Também realizamos em Nova Iorque passeatas e conferências sobre esse tema. Um dos pontos fundamentais do Conselho Mundial da Paz, desde o seu nascimento, é a luta contra as armas nucleares e de destruição em massa.

Para nós essa luta continua essencial. Ela denuncia a hipocrisia e a falácia dos EUA — que foi o único país que atacou e destruiu duas cidades com bombas nucleares e continua impune. Ao mesmo tempo os EUA tentam impedir que outros países utilizem a tecnologia nuclear para fins pacíficos.

Sabemos que a questão da paz é garantida com a soberania, com a auto determinação e um outro sistema de relações internacionais justo, mas temos que buscar desmantelar esse poder bélico porque vivemos sempre sujeitos a uma tragédia, seja na Península Coreana, no Oriente Médio ou no Irã.

Vermelho: O agravamento da crise econômica dos EUA pode acentuar ainda mais as investidas imperialistas ao redor do mundo?SG: Penso que à medida que eles estão em crise e têm que realizar os seus lucros — que é a lógica do capital —, mais avançam contra os direitos dos trabalhadores. O imperialismo e as grandes potências avançam contra os países impondo medidas extremamente duras e fascistas — principalmente na perseguição aos imigrantes. Podemos ver aí a hipocrisia do sistema que fala de liberdade total, mas é uma liberdade que existe para impor sua própria vontade.

Nesse quadro, o risco de agressões contra as nações tem que ser encarado como uma ameaça de fato. Se o imperialismo está armado até os dentes, se está espalhado por mar, terra e ar, e tem essa política de ataque aos direitos dos povos, temos que encarar como um risco.

Vermelho: Como você vê a conjuntura internacional neste começo de ano?SG: Quando o povo americano votou em Obama apostou na paralisação desta política de guerra — que leva os EUA a um isolamento, por semear o medo e o terror entre povos e nações. Obama foi essa tentativa, mas ele continua — apesar de um discurso mais suave — com as mesmas medidas de Bush. Do ponto de vista da ameaça aos povos e da atitude dos Estados Unidos de ataque à democracia e aos direitos dos países, Obama continua e aprofunda a mesma política.

O que temos este ano é a continuidade da intimidação ao Irã, várias escaramuças e ameaças contra a Coreia do Norte e o cerco da África pelo Africom [Comando Africano dos Estados Unidos] que tem o objetivo de controlar o continente, que é riquíssimo. No nosso continente as medidas também continuam. Cuba permanece sob bloqueio e os cinco patriotas cubanos continuam presos.

Por outro lado, há um avanço significativo em vitórias importantes, e nesse sentido o Brasil joga um papel destacado. Nós, do Cebrapaz, encaramos com alegria a eleição da presidente Dilma Rousseff, porque é a continuidade de um projeto de independência e de integração. Observamos a Venezuela, o Equador e a Bolívia darem grandes saltos. A Venezuela conseguiu combater as desigualdades e hoje está em primeiro lugar na América Latina nesse aspecto, o combate à pobreza foi um dos mais significativos avanços — fruto de um governo que utilizou os recursos naturais para garantir a melhoria de vida do seu povo. O Cebrapaz manifesta de maneira militante a solidariedade aos povos que estão nessa luta.

Vermelho: Diante dessas perspectivas de avanço, principalmente na América Latina, como se dão as reações imperialistas?SG: As reações buscam sempre desestabilizar esses governos progressistas. A oposição oligárquica, que é muitas vezes ligada ao passado ditatorial e neocolonial, busca o retrocesso, pois sem democracia é mais fácil explorar e dominar o povo.

Vermelho: O que você destacaria da resistência latino-americana contra as forças imperialistas? SG: No continente americano, as bases militares e a 4ª Frota da Marinha de Guerra dos EUA estão se intensificando com o acordo assinado pelo ex-presidente colombiano Álvaro Uribe, para a instalação de mais bases militares. O objetivo dessas bases é cercar a região e fazê-la servir aos EUA. Busca-se cercar países como a Venezuela, a Bolívia e o Equador. No Caribe, o objetivo dos EUA é dominar Cuba, ameaçado-a com a base de Guantânamo. No Panamá, que havia conseguido avançar no processo de maior soberania, o imperialismo busca a instalação de novas bases. Estes são apenas alguns exemplos do intervencionismo norte-americano no continente.

Além disso, temos a questão da Amazônia, a mais rica região do mundo em biodiversidade e água. Trata-se de uma questão estratégica porque os recursos energéticos aí são gigantescos. Além do mais, existe a questão do Pré-Sal brasileiro que passou a ser um dos alvos da 4a Frota.

Desde 1998 a luta dos povos vem crescendo e o imperialismo não se conforma. Tenta sabotar e impedir os avanços. Basta observarmos o golpe em Honduras; a tentativa fracassada de golpe no Equador e as constantes investidas para desestabilizar a situação na Venezuela e na Bolívia.

Ainda podemos considerar no exame da situação da América Latina a manutenção do bloqueio a Cuba, que é o meio pelo qual o imperialismo norte-americano tenta estrangular a ilha e derrotar a Revolução.

Vermelho: Quais são os eixos de trabalho do Cebrapaz em 2011? SG: As perspectivas são de muitas lutas. Vamos avançar na questão da luta contra a guerra, da solidariedade e da resistência contra as bases militares e a 4ª Frota e temos também o grande desafio de fortalecer o Cebrapaz nos estados. Temos muitos desafios a enfrentar. Com certeza as organizações pacifistas estarão à altura. Este é um ano de fortalecimento do Cebrapaz — com planejamento e campanhas específicas, que envolvem as necessidades de cada estado integradas aos movimentos sociais. Em junho vamos realizar uma conferência nacional com convidados internacionais, o que faz parte do projeto de fortalecimento da cultura da paz.

Outra questão fundamental é a solidariedade. Vivemos, em épocas passadas, de costas para a América Latina. No Brasil, os governantes e as classes dominantes falavam apenas sobre a Europa e os EUA. Hoje os governos da América Latina possuem vários fóruns de integração: o Mercosul, a Unasul, o Conselho de Defesa da América do Sul, a Alba, o Parlasul, o Parlatino. Todos esses mecanismos são passos importantes para a integração. Precisamos intensificar esse movimento de solidariedade.

Vermelho: A recente reunião entre os presidentes da China e dos EUA indica uma transição de hegemonias?SG: Ainda não tenho todos os elementos, mas a questão da crise econômica — que tem seu epicentro nos EUA — chama a atenção. Com a moeda e a economia americana em decadência, vemos que o imperialismo norte-americano está em declínio. Não quero dizer com isso que este imperialismo esteja morrendo e basta uma pá de cal para enterrá-lo. É preciso combatê-lo cada vez com maior força, mas a hegemonia americana está sofrendo abalos. Os EUA ainda têm o maior poder bélico, ao passo que a China é uma potência emergente.

Vermelho: Em novembro último você participou na Espanha de uma conferência sobre a questão palestina. Que opinião tem sobre o tema?SG: O Estado de Israel foi criado com todo o apoio do imperialismo, mas o Estado da Palestina, que também era uma determinação da ONU, não foi criado. Pelo contrário, o território palestino foi sendo invadido e ocupado através de ações militares. Atualmente Israel possui armamento nuclear e a chamada “comunidade internacional” sabe disso, mas nada faz no sentido contrário. Israel já deu claras demonstrações de que não permitirá a criação do Estado palestino.

O povo palestino vem sofrendo um martírio, e mesmo com várias resoluções da ONU determinando a retirada de Israel dos territórios ocupados, a suspensão da instalação de colônias e declarações de que o muro é ilegal, nada é feito. O povo palestino, apesar de martirizado, é um povo heróico porque continua resistindo e lutando por seu Estado, sua autonomia, sua autodeterminação e seu direito de viver. A própria ONU e os países do mundo devem muito ao povo palestino. Ele é um exemplo de como lutar contra os horrores do imperialismo.

O CMP está examinando a proposta de enviar uma delegação à Palestina ainda este ano. O Cebrapaz e os movimentos sociais no Brasil também estão propondo organizar uma delegação para visitar a Palestina em 2011. Além disso, queremos discutir e levar a mensagem ao Parlamento brasileiro para que nosso país não tenha negociações, especialmente sobre assuntos militares com um estado terrorista que cometeu genocídios, crimes de guerra e contra a humanidade.

Vermelho: Como o Cebrapaz e o CMP atuam na questão da luta do povo saharauí?SG: Esta é uma questão importante. O Marrocos de forma alguma aceita a autodeterminação do povo saharauí, posicionando-se e agindo de forma truculenta. As coisas que acontecem lá são realmente escabrosas, muito parecidas com as torturas estadunidenses em Guantânamo. O povo saharauí só quer o direito à sua autodeterminação, o direito de ter a sua própria cultura. Dessa forma entendemos que é essencial a solidariedade ao povo saharauí e o CMP tem feito visitas e mantido laços importantes pela independência desse povo.

Vermelho: É possível afirmar que a política externa brasileira possui elementos progressistas e de construção da paz?SG: Podemos dizer que a política externa brasileira desde o primeiro mandato do ex-presidente Lula teve inúmeros avanços. A primeira mostra disso foi a recusa do governo brasileiro em atender o apelo do ex-presidente, George W. Bush, para invadir o Iraque. Lula então dizia: “A nossa guerra é contra fome”. O Itamaraty e o governo brasileiro buscaram sempre a construção de um caminho de paz e diálogo. Essa atuação aconteceu tanto em questões como a do Oriente Médio, no caso da crise energética nuclear com o Irã, como as relacionadas com nossa região. Até mesmo quando os interesses de empresas brasileiras estavam envolvidos, que foi o caso do gás com a Bolívia, nós procuramos o diálogo. Foi nesse momento que a direita brasileira, que em nenhum momento se importou com a soberania do Brasil, gritou dizendo que o país tinha que se armar e ameaçar a Bolívia, a Venezuela e o Paraguai. O que fez o governo Lula? Sentou-se à mesa, tratou dos contenciosos de forma respeitosa, defendendo os interesses do Brasil e os direitos dos países irmãos. Tudo isso através do diálogo.

Em meu entendimento o governo Lula colocou como ponto alto a questão da paz, ao mesmo tempo em que se posicionou de forma firme quando precisou. Um exemplo é o golpe de Honduras. O Brasil não reconheceu os golpistas e deu todo o apoio a Zelaya.

A política externa brasileira atuou marcando o seu posicionamento, negociando e respeitando os demais países.

Durante os oito anos do governo de Lula, o Brasil também ampliou suas relações com todo o mundo. Fomos ao Oriente Médio várias vezes, à África e à Ásia. O Brasil hoje é respeitado no mundo inteiro pelos avanços na diplomacia e política externa. A eleição de Dilma é uma sinalização de continuidade dessa política soberana, altaneira e de integração.



http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_noticia=146110&id_secao=8

Curso Nacional de Formação CTB-CES

Augusto César Petta *

Todos os que trabalham com formação política e sindical sabem que não é nada fácil conseguir reunir sindicalistas de 21 Estados brasileiros. As dificuldades de ordem financeira, as distâncias enormes de um país de dimensões continentais dificultam o deslocamento.

Mas, em função de um trabalho bem articulado da Secretaria de Formação e Cultura da CTB dirigida pela Professora Celina Áreas, do Centro de Estudos Sindicais-CES dirigido por Gilda Almeida, e das CTBs estaduais, foi possível realizar o III Curso Nacional de Formação de Formadores e Formadoras, em Guarulhos, no período de 16 a 21 de janeiro , contando com a presença de 55 sindicalistas de 21 estados.

Sãoeles:AC,PA,RR,AP,AM,MA,RN,PB,PE,AL,SE,BA,MT,GO,MG,ES,SP,RJ,PR,SC e RS.

Inicialmente, os participantes do curso assistiram, no SESC Belenzinho, a peça teatral Ópera dos Vivos, da Companhia do Latão, e que tem como diretor o Professor da USP Sergio de Carvalho e como uma das atrizes Ana Petta, minha filha. A peça trata de assuntos importantíssimos para a formação política e sindical: Ligas Camponesas, Golpe Militar de 64, relações de trabalho, música popular , televisão.
Coube ao Professor José Carlos Sabóia, ex-deputado federal constituinte(nota 10 do DIAP) desenvolver o tema Projeto Nacional de Desenvolvimento e Desafios do Movimento Sindical, ao historiador Augusto César Buonicore, Secretário Geral da Fundação Maurício Grabois, abordar os conceitos de Estado, Partido e Sindicato, a João Batista Lemos, diretor –adjunto de Relações Internacionais da CTB apresentar e debater o tema Sindicalismo Latino-Americano.

Seguiram-se apresentações dos temas relativos à Mulher Trabalhadora abordado por Liege Rocha, do Comitê de Direção da Federação Democrática Internacional da Mulher; à Juventude apresentado por Paulo Vinicius Santos da Silva, Secretário Nacional da Juventude Trabalhadora da CTB; ao Funcionalismo Público por Fátima dos Reis, Secretária Nacional de Serviços Públicos e Trabalhadores Públicos e à Questão Agrária abordado por Leomar Fernando, assessor da FETAG-RS.

Após a apresentação de todos estes temas, os 55 participantes foram divididos em grupos, e sob a orientação da Professora e Psicóloga Liliana Aparecida de Lima prepararam aulas sobre os respectivos temas e as apresentaram, de forma muito criativa, a todos os participantes do curso. Utilizaram músicas, vídeos,encenações teatrais, aulas expositivas com questões a serem debatidas. Essa orientação pedagógica e o conteúdo desenvolvido são essenciais num curso de formação de formadores e formadoras.

Uma tarde de lazer e uma festa de confraternização contribuíram para que os participantes tivessem um entrosamento maior. A avaliação dos participantes é muito positiva, entendendo que o curso atingiu plenamente seus objetivos. No último dia do curso, foi realizada uma reunião que tratou a respeito dos próximos passos a serem dados nesse processo de formação. Vários participantes dispuseram-se a colaborar na condição de formadores em seus respectivos Estados. Foi elogiado o trabalho da equipe organizadora do curso composta por Silvio de Ameida Silva, Cristiane Batista de Oliveira, Márcia Viotto, André Lemos, Celina Áreas e Augusto César Petta.

Trata-se agora de continuar o processo de formação estabelecido no convênio CTB-CES, com a maior intensidade possível, realizando o curso básico de primeira e segunda etapas e a aplicação do Planejamento Estratégico Situacional, nas CTBs Estaduais.


* Professor, sociólogo, Coordenador Técnico do Centro de Estudos Sindicais (CES), membro da Comissão Sindical Nacional do PCdoB, ex- Presidente do SINPRO-Campinas e região, ex-Presidente da CONTEE.

http://www.vermelho.org.br/coluna.php?id_coluna_texto=3768&id_coluna=11

domingo, 23 de janeiro de 2011

Eduardo Guimarães: Mídia censora denuncia ‘censura’

O que você acharia de uma novela argentina que tivesse um personagem chamado “Brasil”? O nome do país seria dado a um homem feioso, estúpido, malandro, preguiçoso, covarde, invejoso e arrogante que tem uma vizinha virtuosa, bela, inteligente, esforçada, leal e humilde, vítima constante das armações do vizinho. O nome da heróina seria “Argentina”.


Por Eduardo Guimarães, no Blog da Cidadania

É sob esta ótica que peço que o leitor analise notícia sobre o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, amplamente veiculada nos últimos dias, por ele ter proibido, em seu país, a exibição de uma produção colombiana que faz com a Venezuela o mesmo que a novela fictícia que inventei no parágrafo anterior faria com o Brasil.

Hugo Chávez determinou à rede de TV Televen que pare de transmitir a novela colombiana “Chepe Fortuna”. A Conatel (Comissão Nacional de Telecomunicações) avaliou que o programa “subestima a inteligência dos telespectadores” devido ao tratamento dado a duas personagens, as irmãs Colômbia (bonita, correta e cheia de virtudes) e Venezuela (feia, malandra e histérica).

Em um dos episódios, Venezuela entra em desespero ao ser informada de que perdeu seu cachorrinho de estimação, Huguito. “O que será de mim sem ele?”, pergunta, desconsolada. “Você será livre, Venezuela! Porque Huguito ultimamente andava se metendo nas casas alheias, o que te deixava mal perante os outros”, foi a resposta.

Em outro momento da série, a personagem descobre que está grávida e decide que seu filho vai se chamar Fidelito.

Segundo a Conatel, há uma “manipulação descarada no roteiro para desmoralizar a população venezuelana”.

A mesma mídia que acusa Chávez de promover censura se cala sobre o documentário da BBC de Londres “Beyond Citizen Kane”, proibido no Brasil desde a estréia, em 1993, por decisão judicial, por tratar das relações sombrias entre a Rede Globo e grupos políticos, dentre os quais os que promoveram a ditadura militar brasileira.

É discutível a decisão de Chávez de proibir uma obra artística, ainda que seja possível entender que qualquer povo fique ofendido com uma novela como a colombiana. Todavia, uma mídia que pede censura a fatos indiscutíveis sobre seu tentáculo mais poderoso não tem a menor moral para acusar o presidente da Venezuela de censor.

http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_secao=6&id_noticia=145948

O verdadeiro Gramsci: Revolucionário comunista

Hoje, fala-se e escreve-se muito sobre Antonio Gramsci. Muito. É indubitavelmente algo positivo. Na segunda metade do século 20, Gramsci foi o político italiano de quem mais se falou e escreveu. 


Por Maurizio Nocera*, em L´Educazione GramscianaTradução: José Reinaldo Carvalho

Seguramente, não se fez tanto sobre o liberal Benedetto Croce ou sobre o fascista Giovanni Gentile, os dois filósofos políticos da burguesia dos quais os manuais se interessam como os pensadores máximos do século 20, nem se fez o mesmo sobre políticos como Alcide De Gasperi e o próprio Palmiro Togliatti, este último durante muitos anos secretário-geral do Partido Comunista Italiano e altíssima personalidade política do nosso país.

Por que se continua a falar e escrever tanto sobre Gramsci? Simplesmente porque as modas passam e, ao contrário, as ações e os exemplos de alguns homens permanecem e perduram no tempo.

A quem interessaria hoje a filosofia do espírito de Croce, ou a especulação sobre o “pensamento pensante” de Gentile? Águas passadas sob a ponte, águas derramadas para sempre no grande mar da história de todos os tempos, útil talvez para rever de tempos em tempos, como cultura histórico-filosófica, jamais como algo inédito, de experimentável. É fato consumado, visto, discutido, superado.

Outra coisa, contudo, foram as ações políticas e o pensamento especulativo do grande sardo na primeira metade do século passado, pensamento e prática que não encontraram aplicação, porque esmagados no nascedouro, decepados pelo fascismo mussoliniano, que atuava como a versão mais obscura da burguesia italiana. O Gramsci comunista, que lutava pela conquista de uma nova sociedade, pela construção de uma sociedade socialista, devia ser parado, preso.

Dois mil e quinhentos anos atrás, um pouco por fabulação, mas também um pouco com base naquilo que era a realidade concreta daquele tempo, Platão pensou um tipo de nova sociedade, um estado ideal perfeito, que chamou de República e que estruturou para as classes compostas por produtores, defensores e pensadores.

Já se disse que aquela ideia platônica não era senão utopia, fruto do pensamento humano. Isto é o que se pensava e se acreditava durante milênios. Mas se hoje olhamos para as repúblicas modernas nas quais vivemos, como são estruturadas? É de maneira diferente da que pensava Platão? Não me parece. Platão tinha pensado em uma sociedade impossível de realizar-se em seu tempo, mas não excluía a sua exeqüibilidade futura.

Que quero dizer com isso? Simplesmente que o estado idealizado pelo grande filósofo ateniense, embora com altos e baixos e ziguezagues, sucessivamente, ao longo dos séculos, torna-se realidade, que experimentou as diferentes formas de governo idealizadas: a timocracia (plutocracia), a aristocracia, a tirania, a democracia e outras formas intermediárias entre uma e outra.

No seu complexo, a humanidade viu e experimentou na própria pele estas diferentes formas de governo, pelo menos a partir da revolução burguesa de 1789: república presidencialista, república militarista, república democrática, república de conselhos, república totalitária. Nestes anos, que vão de 1945 até hoje, no centro do debate político italiano sempre tem havido momentos de luta institucional muito elevados: a defesa da Constituição republicana dos ataques por parte daqueles que jamais quiseram reconhecê-la e dos que, mesmo reconhecendo-a, nada fizeram para aplicá-la.

Se esta não aplicação é um ponto de referência, o que dizer agora de tudo quanto aconteceu antes daquele histórico evento que viu os comunistas combaterem na primeira linha pela liberdade e a democracia em nome de Antonio Gramsci e Giuseppe Garibaldi? Simplesmente que aquela parte da história política do início do século passado, o que foi pensado, escrito e compreendido na luta política de Antonio Gramsci e dos comunistas nos anos precedentes ao advento do fascismo, não foi jamais aplicado porque esmagado no nascedouro.

A internacional da burguesia, como também suas ramificações periféricas nacionais, sempre tiveram horror de que aquelas ideias políticas encontrassem o mínimo trânsito para sua completa realização, por isso sempre misturaram as coisas com o objetivo de apagar definitivamente a aspiração da classe operária e do povo italiano à conquista da nova sociedade, mais avançada socialmente, mais igualitária no plano dos direitos.

Hoje sabemos que a única sociedade experimentada pela humanidade a ter tais requisitos é a sociedade socialista. Isto ainda não aconteceu na Itália. Primeiro o impedimento foi o fascismo, braço armado executor direto da burguesia mais reacionária, depois sobreveio um longo período de inter-classismo democrata-cristão, no qual a política italiana não era orientada e dirigida pelos italianos mas pelos chefes do imperialismo estadunidense.

Alguém até hoje crê que isto durará eternamente e que as ideias de Antonio Gramsci sobre a nova sociedade já são águas passadas. Ilude-se, porque a história dos homens e mulheres que vivem em nosso planeta é como o vento que antes ou depois varre aquilo que se torna naturalmente obsoleto, seco, inadequado, fora do tempo.

Há mais de 70 anos, políticos, filósofos, historiadores, intelectuais geralmente entendidos, fazem conferências e escrevem sobre o fundador do Partido Comunista da Itália em 1921. Fazem-no sobre a base de diferentes exigências de tipo histórico-sociológico ou político.

Todos, entretanto, são obrigados a dar de Antonio Gramsci uma imagem de homem coerente, cuja vida foi caracterizada pelo empenho constante e luta política pela emancipação e o resgate do proletariado italiano e internacional. Todos têm liberdade para construir a imagem que quiser sobre Gramsci. Mas liberdade de pensamento, de ação e de organização política deve ter também quem pensa em ser comunista e, com isto, pensa no Gramsci fundador de um movimento e de um partido que lutam pela transformação da presente ordem das coisas.

Lendo tudo quanto se escreve hoje sobre o grande sardo, corre-se o risco de não compreender por que ele foi preso, por que o fascismo foi tão implacável contra este homem. Para alguns politiqueiros filósofos, o verdadeiro motivo pelo qual Gramsci acabou sua vida preso, deveria ser debitado aos seus próprios companheiros.

Algum outro se atreve mesmo a dizer que o culpado foi o próprio Stálin, ou pelo menos sua política de defesa da teoria da construção do socialismo em um só país. Credulidade. A verdadeira realidade é que sempre os revisionistas, quando não mentem despudoradamente, envergonham-se de afirmar que Gramsci foi perseguido, preso, encarcerado, recluso por 11 anos, quase sempre em solitária, simplesmente porque era comunista, simplesmente porque era defensor dos direitos da classe operária, simplesmente porque era defensor das melhores tradições e da história da luta pela emancipação do povo italiano.

Que paradoxo é a vida e que miséria é certa política! Quem, hoje, por motivo de trabalho, estudo ou luta política tenha que estudar a história recente de nosso país, não poderá deixar de encontrar em seu percurso de estudioso a história política do comunista Antonio Gramsci, o peso político e científico do seu pensamento marxista-leninista sobre a vida política e cultural italiana.

Até mesmo os neofascistas, herdeiros políticos dos executores materiais da sua eliminação física, até eles são forçados a fazer, mesmo que seja de modo instrumental, considerações sobre Gramsci. Mas no que se refere aos revisionistas de todos os tipos, cuidam de apresentar uma imagem de Gramsci como se ele tivesse sido obrigado pelas circunstâncias a se tornar comunista, um Gramsci substancialmente distanciado da luta de classes, isolado na prisão, que tinha perdido contato com a realidade.

A operação mais desajeitada é aquela que consiste em tentar dar crédito à imagem de um Gramsci de antes de 1926 (ano da sua prisão) e de um Gramsci depois da prisão até 1937. Os revisionistas apontam no sentido de separar verticalmente os dois períodos (já vimos fazerem isto com Marx, Lênin, a União Soviética, o campo socialista) na vã tentativa de fazer aceitar um Gramsci dividido: o primeiro, jovem e, como todo jovem, impetuoso e levado a se colocar em cena; este seria o Gramsci defensor da ocupação de fábricas pela classe operária organizada nos conselhos de fábrica e o Gramsci fundador do PCI e líder dos comunistas italianos. É evidente que para esses senhores, este Gramsci deve ser descartado, esquecido, obnubilado.

O segundo Gramsci, aquele dos “Cadernos do Cárcere”, pelo contrário, pode ser lido, pensado, meditado fora do contexto da luta de classes, na vã esperança de que não seja compreendido até o fim por aquilo que efetivamente ele foi e o quanto pesa ainda hoje o seu pensamento político. As suas mil e uma circunvoluções liquidacionistas tendem, como uma armadilha, a fazer Gramsci aparecer apenas como um pensador político asséptico, cuja ação se diluiu no próprio tempo da sua vida.

É uma lógica canhestra aquela em que me parece até mesmo Luciano Cânfora caiu com seu último livro “Sobre Gramsci” (Datanews/alcazar, maio 2007). Ele apresenta honestamente um Gramsci comunista, em linha com o pensamento leninista, mas também um pouco asséptico, sobre um fundo político em que a luta de classes deve ser apenas imaginada, porque o autor não faz o leitor enxergá-la; para ele, no fundo, Gramsci é um pensador político cujas teses, no plano da teoria, não são no momento criticáveis, mas as teses de um Gramsci que ele estuda e discute como um estudioso, em particular um estudioso do mundo antigo.

Mas aquilo que mais me surpreende do seu breve ensaio é ter reportado declarações referidas em algumas teses de conhecidos falsificadores da história como Isaac Deutscher e François Furet. A análise da leitura de Canfora sobre o pensamento marxista-leninista de Antonio Gramsci parte da crítica de diferentes revisionismos, mas ele foge da natureza perniciosa do revisionismo-pai de todos os demais, o revisionismo de tipo kruchoviano-gorbachoviano, que se encontra na base de não poucas catástrofes.

É por este motivo que se pergunta: por que e para quem Luciano Cânfora escreveu o seu ensaio “Sobre Gramsci” ? Estava lendo o texto de Canfora quando me veio à mente Luigi Russo, um não marxista, reitor da Universidade Normal de Pisa, que pronunciou o discurso “Descoberta de Antonio Gramsci” perante os estudantes na máxima universidade italiana em 27 de abril de 1947 (cf. “Belfagor”, ª XLIII, nº 2, 31 março de 1988, págs. 145-166).

Magistério sublime o que Luigi Russo escreveu: “Gramsci é um homem de um partido político que não é o meu [...], mas ele foi um grande militante desta fatigada democracia, à qual hoje todos os homens de boa vontade e de boa fé querem dar a sua contribuição e nesta aproximação e fraternidade dos ideais corre-se de fato com maior trepidação humana para aqueles que não conhecemos e cujas cartas percorremos com curiosidade febril, porque, para além da fé política de cada um, queremos advertir aquilo que foi o motivo comum da revolta ideal que nestes últimos vinte e cinco anos temos experimentado, desconhecidos um do outro, mas estranhamente íntimos e próximos um do outro, por uma Itália e uma Europa melhores”. (Pág. 147)

Maurizio Nocera é escritor e membro do Centro Gramsci
 
(Texto escrito em 2007 por ocasião do 70º aniversário da morte de Antonio Gramsci)